Luana Oliveira
Luana Oliveira
12 Mar, 2024 - 14:38

Fia-te na íris: fenómeno Worldcoin entre a euforia e a suspeita

Luana Oliveira

Íris e criptomoeda, a combinação para o sucesso da Worldcoin. Mas será que é seguro? Conheça as polémicas que têm surgido.

Worldcoin a fazer scan da íris

A Worldcoin chegou a Portugal em 2023 de forma comedida, mas recentemente o fenómeno anda pelas bocas do mundo, levantando muitas questões sobre a sua atividade.

Nos últimos tempos a empresa não passou despercebida, atraindo centenas de pessoas diariamente para efetuar a leitura da íris em troca de uma moeda digital, a criptomoeda.

Possivelmente já se deparou com as longas filas de espera em shopinhgs como o Via Catarina e o Parque Nascente (na região do Porto) ou Centro Comercial Colombo e a Estação do Oriente (na zona de Lisboa).

Apesar de estar sob investigação por parte das entidades nacionais e internacionais, a Worldcoin não parece ter um fim definitivo à vista.

Fique a conhecer o fenómeno que já conquistou mais de 4 milhões de pessoas em 120 países, a sua atividade e que problemas tem levantado no território português.

Worldcoin, a nova invenção do grupo OpenAI

Provavelmente já ouviu falar do grupo OpenAI, cujo CEO é Sam Altman, criador e fundador do ChatGPT. Pois é, a empresa Worldcoin é o mais recente membro da família OpenAI.

Segundo dados apresentados pela empresa, o objetivo primordial da Worldcoin é construir um “passaporte digital” para todos os seus utilizadores. Ou seja, a partir da leitura da íris construir um método de identificação que nunca poderá ser roubado ou duplicado.

Em aliança com a parceira Tools For Humanity, a Worldcoin cria uma identidade mundial do utilizador através de uma orbe que captura a íris, a parte mais colorida do olho.

A empresa argumenta que a identidade mundial possui diversas utilizações como, por exemplo, quando os utilizadores não se recordam das palavras-passe ou nomes de utilizadores nas plataformas online.

Além disso, a identidade mundial será, dizem, um mecanismo de combate às violações de segurança, roubos de identidade e, com mais frequência, o acesso sem permissão às redes sociais.

À semelhança do sistema Face ID da Apple e a impressão digital no Android, a Worldcoin agrega os seus dados biométricos através da leitura da íris.

É fundamental ter em consideração que, perante a legislação Europeia de Proteção de Dados, os dados biométricos são classificados como dados sensíveis e a sua captação está sujeita a regras mais rigorosas.

Adicionalmente são categorizados como dados biométricos a sequenciação de ADN, impressões digitais, reconhecimento facial, voz, padrões de retina, geometria da mão e ainda a sua assinatura.

Íris e criptomoeda. Qual é a relação?

A criptomoeda entra em cena como atração para os utilizadores, ou seja, através da autorização da leitura da íris na esfera metálica recebe também 10 worldcoins, uma moeda lançada pela empresa parceira da Worldcoin.

No caso de convidar amigos, o utilizador recebe mais 25 worldcoins.

Nos primórdios deste fenómeno, os utilizadores recebiam mais criptomoedas, avaliadas entre 50 a 60 dólares, equivalendo a 45 e 55 euros. Mas com tanta popularidade, não é de estranhar que o valor da moeda esteja em crescimento. Até ao dia de hoje, o token da worldcoin encontra-se a 9,78 dólares, rondando os 8,95 euros. No entanto, em 2023, a moeda valia somente 1,90 dólares, correspondendo a 1,74 euros.

Refira-se que a obtenção de dados biométricos utilizando a criptomoeda como “moeda de troca” não é ilegal, mas esta é uma situação que tem levantado muitas questões éticas.

É seguro?

É a pergunta a que todos procuram responder, mas a verdade é que ainda não há uma resposta definitiva, em particular por parte das entidades reguladoras.

Tal acontece porque a Worldcoin não dispõe de muitos dados sobre a sua atividade ou propósito, ressalvando apenas que os dados obtidos não são guardados no sistema interno.

Porém, em território português, já foram apresentadas algumas queixas e as entidades nacionais estão vigilantes.

Os especialistas alertam para a eventualidade do uso dos dados biométricos para outros fins não identificados ou estarmos perante um esquema em pirâmide em Portugal.

Por sua vez, a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) abriu um processo de fiscalização que, até ao momento, não possui qualquer conclusão sobre a conduta da empresa.

Em Portugal, as queixas contra a empresa vão-se acumulando. Tal acontece porque alegadamente os seus colaboradores abordaram menores de idade, aliciando-os com o valor da criptomoeda. De notar que a atividade da empresa é para maiores de 18 anos.

De forma a travar o mistério em torno da Worldcoin, alguns países tomaram providências mais drásticas. Espanha foi um deles. A 6 de março, a Agência Espanhola de Proteção de Dados (AEPD) ordenou a suspensão imediata da atividade da Worldcoin, fornecendo-lhe 72 horas para demonstrar que a ordem foi cumprida.

A decisão foi aplaudida por vários países, originando um debate sobre o futuro daqueles que submeteram os seus dados e a possibilidade de reverter toda a atividade realizada.

Segundo o que é possível ler no website oficial da Worldcoin, a aplicação foi concebida para se tornar a maior rede de identidade humana e financeira do mundo, disponibilizando recursos a toda a gente.

Pretende ainda fornecer acesso universal à economia global, independentemente do país ou contexto, construindo um espaço para todos beneficiarem da era da Inteligência Artificial.

No entanto, continuam a subsistir muitas zonas opacas, pelo que a polémica continua a dar pano para mangas.

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