Teresa Campos
Teresa Campos
28 Dez, 2021 - 14:00

Stress pós-traumático: uma ferida profunda que custa a resolver

Teresa Campos

O stress pós-traumático atinge mais de 1% da população europeia. Afeta pessoas de todas as idades após contacto com um evento traumático.

Soldados sofrem de stress pós-traumático

O stress pós-traumático é uma perturbação psicológica grave que pode surgir na sequência da exposição a um evento causador de uma ansiedade e pânico extremos, como é o caso da vivência de uma guerra, de uma situação de violência ou de um acidente. Cerca de 1,1% da população europeia sofre deste problema.

Estes eventos nem sempre provocam stress pós-traumático. Tudo depende da forma como o indivíduo é ou não capaz de gerir as suas emoções. Quando há lugar ao trauma, as pessoas sentem, frequentemente, rejeição e medo e guardam memórias dolorosas dessas experiências traumáticas. Este problema pode condicionar seriamente a vida do indivíduo, limitando as suas opções e os seus movimentos diários. Saiba mais.

Stress pós-traumático: sintomas, causas e tratamento

O stress pós-traumático pode definir-se, assim, como uma reação intensa, prolongada e retardada a um evento de curta ou de longa duração, que provoca a perturbação do funcionamento pessoal e social do indivíduo.

Fatores de risco

Há alguns fatores de risco que podem potenciar o stress pós-traumático, nomeadamente:

  • ser mulher;
  • ter pouco apoio social;
  • ter QI baixo;
  • possuir uma lesão física resultante do trauma;
  • ter algumas caraterísticas de personalidade, como ansiedade ou depressão.

Sintomas

Há vários sinais e manifestações que podem caraterizar um caso de stress pós-traumático, nomeadamente:

  • Recordar involuntariamente o momento traumático;
  • Ter recorrentemente pesadelos;
  • Apresentar reações desproporcionais perante coisas que se associem ao eventro traumático;
  • Chorar fácil e frequentemente;
  • Sentir dificuldade em adormecer ou em não acordar a meio da noite;
  • Rejeitar conversas, locais e/ou pessoas que associe ao evento traumático;
  • Afastar-se física e emocionalmente de pessoas anteriormente importantes;
  • Viver num estado de alerta, medo ou pânico constantes;
  • Manifestar irritabilidade, agressividade ou fúria;
  • Sentir dificuldade em concentrar-se;
  • Sentir instabilidade emocional e mal-estar psicológico;
  • Manifestar perda de apetite e/ou distúrbios alimentares;
  • Entrar em estados de choque e de desespero;
  • Sentir palpitações, suores, aumento da pressão arterial e dificuldade em respirar;
  • Abusar de álcool e de drogas;
  • Assumir comportamentos auto-lesivos e/ou marginais;
  • Apresentar sentimentos de tristeza, vergonha e culpa.

Aproximadamente 80% das pessoas com stress pós-traumático apresentam outra comorbilidade psiquiátrica, como ansiedade, abuso de substâncias, somatização, depressão e/ou dor crónica.

ataques de pânico

Causas

O stress pós-traumático pode decorrer de uma experiência pessoal negativa, mas também de uma reação a vivências de terceiros. Este problema pode surgir em qualquer idade.

Algumas das situações que podem causar este tipo de stress costumam estar associadas a contextos de morte, de risco ou de ameaça, como acidentes, desastres naturais, crimes, doenças, internamento hospitalar, guerra ou abusos/maus tratos físicos e sexuais.

Nos homens, o stress pós-traumático costuma estar mais associado a eventos violentos, como combates ou acidentes de trabalho, enquanto nas mulheres este problema costuma decorrer de situações de abuso físico e de violência sexual.  Há mesmo alguns estudos que demonstram que 50% das mulheres europeias vítimas de violência física ou abuso sexual desenvolvem estes quadros de stress.

Diagnóstico e tratamento

Para proceder ao diagnóstico do stress pós-traumático, é necessário que os sintomas se manifestem há mais de um mês e causem sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou pessoal do indivíduo.

O stress pós-traumático tem tratamento, o qual pode dividir-se entre a intervenção psicoterapêutica (terapia cognitivo-comportamental) e a toma de psicofármacos que aliviam os sintomas de ansiedade e de depressão, como ansiolíticos ou anti-depressivos, respetivamente.

Aproximadamente 50% dos casos de stress pós-traumático recupera ao fim de um ano de tratamento, enquanto 1/3 dos doentes mantém a perturbação durante vários anos.

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Prevenção

Há algumas medidas que todos podemos adotar de modo a evitar desenvolver situações de stress pós-traumático, nomeadamente:

  • Recorrer, sempre que necessário, a aconselhamento psiquiátrico, terapia e medicação;
  • Tratar problemas como depressão ou alcoolismo;
  • Fortalecer as relações sociais e familiares, de forma a ter mais apoio;
  • Tentar substituir os pensamentos negativos por pensamentos positivos;
  • Praticar exercício físico regularmente, de maneira a combater a ansiedade.

Stress pós-traumático dos ex-combatentes

Como dissemos, uma das causas para o surgimento do stress pós-traumático pode ser a vivência de um ambiente de guerra.

Neste contexto, há várias circunstâncias que podem conduzir a um quadro severo de stress, nomeadamente a morte de um camarada; a exposição ao combate e ao ferimento de um camarada ou do próprio; o assassinato; a tortura; a violação; a destruição de aldeias; a sede e a fome; o isolamento, entre outras.

Em Portugal, a Guerra Colonial (1961 – 1974), também conhecida como Guerra do Ultramar, contribuiu para quadros de stress pós-traumático em vários ex-combatentes desta guerra. Até aos dias de hoje, ainda muitos dos homens que participaram no conflito mantêm sequelas psicológicas.

Se é o seu caso ou o caso de um familiar ou amigo seu, não hesite em procurar ajuda na Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

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