Mónica Carvalho
Mónica Carvalho
15 Mai, 2020 - 18:07

“Posso ajudar?” A história de uma voluntária em tempos de pandemia

Mónica Carvalho

Por vezes, algumas palavras são suficientes para acalmar as mentes e os corações mais inquietos. Uma história de voluntariado durante o isolamento social.

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Fomos todos apanhados desprevenidos e nunca ninguém imaginaria enfrentar uma pandemia, provocada por um vírus altamente contagioso, que nos afasta praticamente de tudo o que gostamos e de quem nos faz bem.

Por isso, pediam-nos constantemente que ficássemos em casa. Mas ver o mundo a mudar de dia para dia e nada poder fazer, era algo que me causava stress e ansiedade. Os dias passados em casa, enquanto outros davam o tudo por tudo na linha da frente de uma luta sobre a qual pouco se sabia, despertava em mim uma inquietude e uma vontade de ajudar, que se tornava mais intensa dia após dia.

Entretanto, começaram a surgir os pedidos de ajuda um pouco por toda a parte e não hesitei em inscrever-me para fazer voluntariado na E(M)VIO – Estratégia Municipal de Voluntariado Inteligente Organizado, da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, onde resido.

Não sabia o que iria fazer. Não era, de facto, isso que importava. Precisava sim de fazer algo para ajudar. Precisava de abafar este sentimento de inutilidade e sair da minha concha protetora, para poder dar algum tipo de conforto e aconchego a quem não o consegue ter.

Quando as palavras me tornam numa confidente por alguns minutos

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Fui, então, convidada a integrar o projeto “Gaia és TU”, que consiste na criação de um call center de sensibilização à população sénior do município. Sabemos que os mais velhos são, de facto, um grupo de risco no que diz respeito à contaminação por COVID-19, pelo que, saber como estão, que tipo de carências existem e alertar para os cuidados a ter é algo tão importante e, ao mesmo tempo, tão simples de fazer.

Chegou o primeiro dia de voluntariado e, com ele, uma motivação como não sentia desde que as regras de distanciamento social e o afastamento das pessoas e atividades que nos fazem bem começaram a dominar as nossas vidas.

Era difícil não falar com um sorriso no rosto, por sentir do outro lado alguém que estava genuinamente satisfeito e agradecido simplesmente por ouvirem “Como está? Posso ajudar?” Ainda que fossem detetadas algumas dificuldades, reportadas aos serviços municipais para que pudesse ser dado o devido acompanhamento, a larga maioria das pessoas apenas queria conversar um pouco, revelar os medos que sentiam e partilhar a ansiedade de um futuro tão desconhecido e incerto.

E entre conselhos, troca de ideias, desabafos percebe-se que acima de tudo é o medo que predomina nestes tempos marcados por uma doença impossível de prever. Não só o medo de adoecer, mas também sobre como irá ser o amanhã: quando vão poder sair em verdadeira liberdade? Quando vão poder abraçar os filhos e netos que são motivos de alegria? Quando poderão ter novamente a mesa cheia para o almoço de domingo em família?

Miguel Guimarães bastonário da Ordem dos Médicos
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A isto junta-se a saudade e, com ela, a voz que baixa de tom e treme ao falar nos entes queridos com quem não se está há semanas. E, quando dou por mim, durante aqueles minutos, sou conselheira, sou amiga, sou filha, sou neta, porque de desconhecida e estranha nada tenho, desde que perguntei “Como está? Posso ajudar?”.

Entretanto, pouco faltará para que este projeto termine, e, nessa altura, procurarei um novo desafio na área voluntariado. Há tanto ainda por fazer… Afinal, se não dermos um pouco de nós para fazer do mundo um lugar melhor, então, não estamos a fazer a nossa parte.

Quer ser voluntário? Veja o que pode fazer

Há inúmeras instituições que aceitam a inscrição de voluntários, ainda que algumas tenham processos de admissão mais exaustivos devido ao tipo de voluntariado realizado, como poderá acontecer em unidades hospitalares, por exemplo.

Mas além da área da saúde, poderá fazer voluntariado nos projetos desenvolvidos pelos municípios portugueses, nas instituições de solidariedade social, em associações de animais, entre outras.

Existem até projetos de índole nacional, como “Cuida de Todos”, que pretende angariar voluntários que queiram prestar serviço em lares e instituições de apoio a idosos, numa altura em que existe carência de recursos humanos derivada da situação pandémica que vivemos.

Na plataforma Portugal Voluntário, poderá também aceder a informação sobre oferta e procura do voluntariado a nível nacional, em todos os domínios de atividade, sendo, assim, uma boa opção para encontrar organizações promotoras de voluntariado, sejam, bancos locais de voluntariado, bolsas de voluntariado e outras entidades.

O importante é perceber o que se identifica consigo, porque ser voluntário é um compromisso que deve ser assumido com elevada responsabilidade.

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