Olga Teixeira
Olga Teixeira
04 Jun, 2020 - 16:13

O desconfinamento e os (vários) receios dos portugueses

Olga Teixeira

Voltar ao ginásio, jantar fora ou férias no estrangeiro não estão nos planos dos portugueses na fase de desconfinamento. Conheça os medos e novos hábitos.

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O desconfinamento não diminuiu os receios dos portugueses que, entre março e maio, devido à COVID-19, se viram forçados a alterar hábitos e cancelar planos. Agora que os espaços públicos reabrem progressivamente, são muitos os que preferem esperar um pouco mais antes de retomar as rotinas.

Um estudo da Multidados – The Research Agency e da Guess What, realizado entre 20 e 23 de maio e tendo como base mil respostas, concluiu que a maioria dos inquiridos receia voltar aos cafés, restaurantes e bares.

A utilização dos transportes públicos e o regresso ao ginásio ou a concertos em espaços fechados também não estão nos planos a curto prazo.  

Desconfinamento lento na restauração

Se antes da pandemia cerca de 70 por cento almoçava ou jantava fora (23,1% ia mais de uma vez por semana e 25,3% semanalmente), nos próximos tempos este hábito pode não ser tão frequente.

Numa escala de zero (pouco receio) a 10 (muito receio), os inquiridos classificam com um sete a ida a bares e discotecas e seis a ida a restaurantes e cafés.

Os bares e discotecas não têm ainda data para reabrir. No caso dos restaurantes, foram já aliviadas as regras relativas à lotação, desde que exista a distância de segurança.

Na altura em que o inquérito foi realizado, a maioria só tencionava voltar a almoçar ou jantar fora perto do final do mês de junho. E 72% dizem que, durante o desconfinamento, vão frequentar estes espaços menos vezes do que anteriormente.

transportes públicos com máscara

Voltar ao ginásio? Não é para já

Na altura em que o inquérito foi feito não havia ainda data para a reabertura dos ginásios.

A atividade estava fora do calendário de desconfinamento inicialmente divulgado pelo Governo. No entanto, o setor teve autorização para a reabertura a partir de 1 de junho, com regras bastante rigorosas quanto à higiene, lotação e distanciamento social.

Antes da pandemia, e entre os inquiridos que frequentavam ginásios, cerca de 61% iam mais de uma vez por semana. Agora, mais de metade (55%) só pensa regressar dentro de dois meses.

E nem a aproximação do verão, que costuma aumentar a frequência destes espaços, parece diminuir o receio: numa escala de zero a 10, atribuem 7,88 ao regresso ao ginásio e 8,13 a frequentar uma piscina pública.  

Transportes públicos? Não, obrigado

Antes da pandemia, um quinto dos inquiridos (20,2%) usava com frequência o autocarro, 15,2% o metro e 13,4% o comboio nas suas deslocações. O automóvel era usado por 26% dos portugueses.  

Agora, a utilização de transportes públicos – mesmo com as medidas de segurança implementadas – gera receios, sendo que, numa escala de zero a dez, o autocarro é avaliado em 7,43, o metro em 6,97 e o comboio em 6,93. O automóvel é, para os inquiridos, a forma mais segura, recebendo apenas 1,29 nesta escala; andar a pé tem 2,12 na escala de receio.  

Talvez por isso, a maioria dos inquiridos pondera só voltar a usar transportes públicos daqui a mais de dois meses.

Férias em Portugal são mais seguras

Ainda de acordo com este inquérito, passar férias em Portugal tem, na escala de receio, um valor de 5,28, enquanto ir para o estrangeiro parece ser mais assustador: 7,77.

Em relação à opção para passar férias, alugar uma casa gera mais confiança do que ir para um hotel, hostel ou turismo rural: 5,90 contra 6,46.  

Convívio com menos amigos

Um dos grandes desejos para a fase do desconfinamento era poder rever amigos e familiares.

Estes encontros, que aconteciam para a maioria pelo menos uma vez por semana, vão ser retomados com menos medo do que algumas das atividades anteriores, já que a escala de receio é de 5,4 para os amigos e de 4,6 para familiares.

No entanto, 60% dos inquiridos pretendem reduzir o número de pessoas que participam nestes convívios.

Compras no shopping? Talvez mais tarde

A reabertura dos centros comerciais, bem como todas as regras implementadas, talvez tenham apaziguado os receios dos portugueses. Mas a verdade é que, no fim de maio, não era este o espírito.

Fazer compras em centros comerciais alcançava 6,51 numa escala de receio, enquanto ir ao cabeleireiro ou barbeiro ficava nos 5,76 por cento e ir ao supermercado era avaliado com 5,22.  

73% dos que responderam ao inquérito admitiram mesmo que frequentariam menos vezes os shoppings e 29,5% admitiam esperar um mês até voltar a um centro comercial. 

Cultura sim, mas ao ar livre

A reabertura de cinemas e salas de espetáculos aconteceu a 1 de junho, mas duas semanas antes 78% dos inquiridos diziam que só voltariam a ver concertos em espaços fechados dois meses depois, enquanto 31% admitiam voltar brevemente a frequentar eventos ao ar livre.

Na escala de receio, ir a concertos em espaços fechados tinha uma classificação de 8,10, enquanto os festivais de verão mereciam 7,25. Mais do que ir a exposições (6,52), assistir a eventos desportivos (6,42) e ir a eventos ao ar livre (5,41).  

Regresso às lojas com novos hábitos

Outro estudo, realizado pela Kantar para a Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca e tendo como amostra quatro mil lares, revela que, apesar de tudo, o receio tem vindo a diminuir.

O nível de preocupação em relação à Covid-19 era de 80,9% durante o estado de emergência, descendo para 76,2% no estado de calamidade.

De acordo com os dados recolhidos, entre 3 e 17 de maio o desconfinamento era já visível, com um aumento de pessoas nas lojas, mas com menos compras feitas de cada vez.

Os portugueses mudaram também os hábitos em relação ao dia escolhido, sendo que agora preferem ir durante a semana e não ao fim de semana.

Outro dado interessante diz respeito ao aumento na compra de produtos locais e em lojas mais perto de casa, passando menos tempo em cada loja,  

“Uma parte substancial da população ainda apresenta algum receio de regressar a atividades de consumo fora do lar”, revelam os responsáveis por este estudo que confirma que o desconfinamento não acabou com o medo.

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