Olga Teixeira
Olga Teixeira
26 Jan, 2021 - 16:30

Luís Lourenço: “Quando gastamos de forma mais consciente, poupamos”

Olga Teixeira

É possível poupar em tempo de crise? Veja os conselhos de Luís Lourenço, formador na Your Money Watcher, na última conversa do ciclo Finanças (s)em Crise.

conversa ekonomista luís lourenço

O contexto atual pode não ser o ideal para poupar, mas há quem o possa e deva fazer, até porque o futuro é incerto. Esta foi uma das conclusões da última conversa do ciclo Finanças (s)em Crise sob o tema “É possível poupar em tempo de pandemia?”.

Luís Lourenço, formador na Your Money Watcher e autor do livro “Domine as suas finanças e tenha uma vida melhor”, deixou conselhos adequados a quem tem muita, pouca ou nenhuma margem para poupar em tempo de crise.

Poupar em tempo de crise: as três realidades

A primeira conclusão, quando se fala de poupar em tempo de crise, é que, como a pandemia não afetou todos da mesma forma, há que distinguir a forma como esta poupança pode ou não ser feita.

“A realidade não é homogénea”, salientou Luís Lourenço, considerando que existem três grupos diferentes: os que passam por situações aflitivas, os que têm de recorrer ao fundo de emergência para pagar as despesas e os que aumentaram, ainda que temporariamente, o rendimento disponível.

Vejamos, então, o que cada um pode fazer se estiver numa destas situações.

Pessoas em situação de privação

A perda de emprego e a quebra total ou parcial de rendimentos devido à pandemia são uma realidade para muitas famílias. E este é um caso em que a ideia de poupar em tempo de crise não faz sentido.

“São pessoas que, na sequência do que está a acontecer, acabam por passar por situações de privação extrema“, explicou Luís Lourenço, acrescentando que “para pessoas que estão nessa situação não faz qualquer sentido estarmos a falar em poupança ou gestão financeira, porque a luta delas é pôr comida na mesa”.

Ainda assim, é importante que percebam que podem recorrer a mecanismos de apoio que possam aliviar a situação: “O que me parece ser um conselho é o de procurarem a máxima  ajuda, procurarem instituições de apoio, saber que medidas existem para que possam fazer uso do que têm ao dispor”.

O especialista recomendou também que “por muito que seja complicado, não devem ter vergonha de expor a sua situação”.

Há pessoas que estão a passar por imensas privações e, por vergonha, estão ainda a passar por dificuldades maiores

Pessoas com redução de rendimentos

Um segundo grupo abrange quem perdeu rendimentos, mas tem ainda como pagar as despesas, embora com dificuldade.

“Não estão ainda em situação de necessidade extrema, mas já têm que recorrer, por exemplo, a uma poupança ou a um fundo de emergência. Ou seja, o seu rendimento mensal não chega para fazer face às suas despesas”, caracterizou Luís Lourenço.

Na sua opinião, “para estas pessoas também não faz sentido falar em poupança em termos de poupar sobre o rendimento, porque este já não chega para as despesas”.

Neste caso, a poupança terá de ser feita “por via da não despesa, ou seja, tentar fazer uma gestão muito bem feita da sua situação para terem de recorrer o menos possível ao fundo de emergência”.

E esta gestão passa, por exemplo, por fazer orçamentos muito objetivos para as necessidades mensais de forma a avaliar para quanto tempo dá o fundo de emergência. Poupar em tempo de crise é, para este grupo, uma questão de de fazer contas e avaliar criteriosamente os gastos.

Reestruturar as despesas

Assim, e para quem está nesta situação a poupança implica uma redução das despesas que não são indispensáveis. Luís Lourenço aconselha “verificar de todas as suas despesas quais são as que podem ser convertidas em despesas variáveis ou acabar com elas”.   

Quase sempre é possível equacionar aquilo que gastamos e criar alternativas

Por isso, explica, trata-se de “poupar não sobre aquilo que recebe, mas reestruturar as despesas”. Isto é, “gastando menos de uma forma mais consciente”.

“Quando gastamos de uma forma mais consciente, habitualmente poupamos. Poupar acaba por vir atrás de um consumo mais consciente sobre quais são as nossas reais necessidades”, considerou.

Pessoas com o mesmo rendimento e menos despesa

Há ainda um terceiro grupo, composto por quem não foi financeiramente afetado pela pandemia, passando até a ter mais dinheiro disponível.

“São pessoas que têm o mesmo rendimento que tinham antes da crise e que conseguem ter menos despesa, por exemplo porque trabalham a partir de casa”, exemplificou Luís Lourenço.

Quem tem rendimento a entrar e possibilidade de acrescentar à poupança deve, sem dúvida nenhuma, fazê-lo.

Para quem está a gastar menos do que antes, existe realmente a possibilidade de poupar em tempo de crise.

“Esse excedente de tesouraria pode ter vários destinos. Existe uma tentação natural para aumentar a despesa, o que pode acontecer mesmo estando em casa”, admitiu. Por isso, deixou um alerta: “Esta é uma altura que convida à prudência. Nenhum de nós sabe o que vai acontecer daqui a meia dúzia de meses ou para o ano que vem”.

Assim, e até porque as previsões em termos de crescimento económico ficam aquém do que era expectável há uns meses, as despesas devem ser feitas de forma bastante ponderada.

Dicas para poupar em tempo de crise

Assim, e para quem quer e pode poupar, é essencial saber como construir e gerir um orçamento familiar.

Luís Lourenço aconselha que se faça uma espécie de pirâmide, tendo na base o que diz respeito à subsistência e subindo até ao que já não é assim tão importante: “Alimentação, casa e depois, havendo filhos, necessidades básicas, como a escola, vestuário e esse tipo de necessidades”. 

“Abrigo, roupa e comida é o fundamental. A partir daí é começar a fazer gestão e ver o que é indispensável e o que não é. Sempre tendo em conta esta situação que não sabemos quando vai acabar e onde nos vai levar”, aconselhou. 

Qual a percentagem de despesa e poupança?

Atendendo ao nível salarial nacional e às diferenças de rendimentos entre cada família, não se pode falar numa percentagem de poupança que seja ideal para todos.

“Assumindo um salário médio, e se uma pessoa conseguir poupar 10% seria muito bom. Embora não seja muito, se hoje não ganhar muito e conseguir poupar 10%, amanhã, quando ganhar mais, poderá ter a lógica de poupar essa percentagem e isso já ser um dinheiro significativo”, considerou. 

Os benefícios fiscais poderiam ser um incentivo para poupar em tempo de crise mas, de acordo com o especialista, hoje em dia não existe realmente “vantagem fiscal associada à poupança”. 

“O nosso país não promove a poupança com ações diretas que tenham impacto direto no bolso das pessoas”, defendeu.

Opções para poupar em tempo de crise

Existindo margem para poupar, surgem várias opções para aplicar esse dinheiro. Luís Lourenço aconselha, em primeiro lugar, a criação de um fundo de emergência.

“Quem tem deve reforçar. Quem não tinha já percebeu que pode ser importante. As nossas fontes de rendimento podem ter variações, podem acabar ou reduzir e quem hoje está numa situação tranquila amanhã pode não estar. Construir esse fundo é uma ótima solução” sublinhou. 

Já no que respeita a investimentos, defendeu que estes dependem do perfil de cada um. E a verdade é que muitas soluções apresentam níveis de risco elevado e, por isso, pouco apelativos para quem quer ter a garantia de não perder uma parte das suas poupanças.

No atual contexto de imprevisibilidade as cautelas têm de ser reforçadas. “É uma pergunta que cada um deve fazer a si próprio: até que ponto está realmente interessado em pôr em cima da linha o seu dinheiro ou a sua poupança”, aconselhou. 

Depósitos, certificados e PPR

“Os tradicionais depósitos a prazo também se tornaram pouco interessantes, já que têm rendimentos baixíssimos, a maior parte deles abaixo da taxa de inflação. Muitas vezes, no final do ano, acaba por ficar ainda com menos dinheiro do que quando fez o depósito a prazo”, alertou. 

Para quem, num contexto de crise, quer poupar com garantias de não perder o que aplicou, sobram poucas opções. “Existem os instrumentos públicos, as obrigações do tesouro, os certificados [de aforro], que têm taxas bastante limitadas, mas que ainda assim conseguem superar os depósitos a prazo, PPR e instrumentos dessa natureza”.

No caso dos PPR, há alguns cuidados a ter, avisou: “Para não correr riscos o rendimento é quase nulo. Os PPR que não deixam de ser depósitos a prazo com algumas características diferentes, mas em que é importante que as pessoas tenham noção que existem períodos de carência grandes para que se possa movimentar o dinheiro”.

Já os instrumentos do Estado – obrigações do tesouro ou certificados de aforro – podem ser opções mais interessantes, mas há igualmente cautelas a ter.

“Garantem que pode ter o seu dinheiro disponível praticamente quando quiser. Pode existir num ou noutro caso um período de carência, mas habitualmente curtos. Também é importante ter em conta alguma penalização que possa existir caso seja necessário mobilizar antes do prazo convencionado”. Além disso, e dada a ligação ao Estado, são mais seguros do que outras opções.

Veja ou reveja na íntegra a conversa com Luís Lourenço, que encerrou o o ciclo “Finanças (s)em Crise”.

https://www.facebook.com/ekonomista.pt/videos/1108987349616910/

Para ajudar a gerir as suas finanças neste contexto de pandemia, o Ekonomista criou ainda o Ebook Finanças (s)em Crise. Numa linguagem simples e descomplicada, vai encontrar toda a informação de que precisa para saber, por exemplo, onde e como cortar despesas ou como criar um fundo de emergência.

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