Luana Freire
Luana Freire
02 Jan, 2024 - 13:49

Pais helicóptero: quem são e que erros cometem ao educar?

Luana Freire

É um dos pais helicóptero? Saiba tudo sobre a nova geração de pais que está a chamar a atenção de educadores e psicólogos pelo mundo.

Pais helicóptero

Há uma nova geração de pais que está a sobrevoar a vida dos filhos, exercendo características de intromissão e superproteção. Mas quem são e que erros cometem ao educar? Conheça mais sobre os pais helicóptero e identifique os comportamentos que deve evitar adotar aí em casa.

Pais helicóptero: quem são e o que fazem?

Quem são os pais helicóptero?

São os pais da chamada geração Z, ou seja, pais de crianças e jovens nascidos em finais da década de 90 e até 2010. São os miúdos que já quase nasceram de telemóveis nas mãos e passam a vida a “zapear” entre jogos de vídeo, televisão, internet e smartphones – são os chamados nativos digitais. 

Uma grande parte dos especialistas defende que esses jovens são dominados por um sentimento de insegurança quanto à realidade do futuro e de insatisfação. O que os pais têm a ver com isso? Vamos tentar explicar tudo neste artigo.

O que fazem os pais helicóptero?

Intrometidos e superprotetores, os pais helicóptero integram um fenómeno social da atualidade e, embora pareçam raros pela denominação ainda pouco conhecida, a verdade é que estão por toda a parte: no círculo de amigos, entre os pais conhecidos da escola, na família…

Sobrevoando a vida dos filhos, estes pais cometem enganos considerados graves para os especialistas em educação: evitam os erros, advertindo sempre antecipadamente para os perigos possíveis, e guiam as suas decisões.

O problema? Ao evitar que os mais novos cometam as suas próprias falhas, os pais helicóptero boicotam uma capacidade importante para os mais novos: a de saber fazer escolhas. O resultado é que estão a criar filhos despreparados para tomar decisões – sejam elas básicas, na primeira e na segunda infância, ou até mais específicas, como acontece já na altura da adolescência e na fase adulta.

Como agem os pais helicóptero?

No fundo, o termo não tem de ser necessariamente negativo. Na verdade, um pai helicóptero é aquele que se mostra inteira e profundamente dedicado ao bem estar geral dos seus filhos, apresentando uma noção alargada do que é o seu dever no exercício da parentalidade – uma visão que vai muito para além da necessidade de oferecer um bom ambiente familiar e uma educação adequada. É um pai próximo, amigo, conselheiro, que faz realmente parte da vida dos filhos. Mas, então, quando este tipo de comportamento transforma-se num problema?

É simples: a paternidade helicóptero passa a ser um problema quando os pais não percebem que estão a dificultar capacidades de escolha e independência, prejudicando a formação de um filho auto-suficiente – como afirmam os especialistas no assunto, salientando que a superproteção moral e física compromete o fortalecimento de capacidades essenciais, como a interação social e a auto-confiança – que são algumas das bases para a vida futura.

Isso acontece porque os pais helicóptero estão em contacto constante com os filhos – algo muito facilitado pelo uso dos telemóveis hoje em dia -, exigindo que se esforcem ao máximo, que sejam os melhores em tudo e procurando garantir que não falham ou se magoam.

Ora bem, se a criança se habitua a ter sempre o conselho ou o amparo dos pais diante de qualquer decisão, ou são superprotegidas perante qualquer tipo de frustração, o que acontece quando essas crianças não os têm ao lado em tais situações? Sim, porque os problemas da paternidade helicóptero não encerram na infância – implicam, até, nos resultados académicos do ensino superior e na adaptação ao primeiro emprego, por exemplo.

O comportamento dos pais helicóptero, para os especialistas, é um fator preponderante ainda na condução aos estados de stress e ansiedade nos mais novos – algo que vai perdurar, provavelmente, durante a vida adulta.

Até que ponto somos, nós mesmos, pais helicóptero?

Não é difícil reconhecer alguns traços de papá/mamã helicóptero em nós mesmos, afinal, que pai ou mãe não quer evitar os enganos dos filhos? Quem não quer fazer as melhores escolhas pelos mais novos? Quem não exerce a superproteção em determinado momento das nossas rotinas? Mas, como nem tudo é céu e nem tudo é mar, é preciso saber encontrar o equilíbrio entre proteger uma criança ou superprotegê-la.

Um alerta importante aos pais é que, na verdade, ajudar é bastante diferente de sobrevoar cada voo dos miúdos, na esperança de afastar perigos que, muitas vezes, são absolutamente inevitáveis (ou, até, necessários – por que não?).

Para saber identificar quais as características de pais helicópteros nós mesmos apresentamos na educação dos nossos filhos, é preciso conhecer os diferentes tipos desta parentalidade. Para o ajudar na tarefa, listamos o que dizem os psicólogos sobre o assunto.

3 tipos de pais helicóptero

1.

Helicópteros de combate

Os pais vistos como helicópteros de combate são aqueles que travam as lutas dos filhos. Normalmente, são velhos conhecidos entre os professores e funcionários da escola – e, sim, são vistos como “de pouca ajuda” – afinal, de que lhes adianta ir resolver uma briga de crianças ao final do dia, ou fazer queixas sobre conflitos comuns do quotidiano aos responsáveis no ambiente escolar?

2.

Helicópteros de tráfego

Estes são os pais que estão sempre a guiar os filhos e ao longo de toda a vida ajudam na tomada das mais diversas decisões, indicando sempre o caminho que julgam melhor e baseando este exercício no aconselhamento. A diferença entre os pais de combate e os pais de tráfego é que estes últimos, normalmente, acabam por finalmente deixar que os filhos sigam o próprio percurso.

3.

Helicópteros de resgate

O terceiro e último tipo de pais helicóptero forma o grupo dos helicópteros de resgate, ou seja, são caracterizados por “salvar” os filhos das crises, levando-os para um sítio que consideram seguro – físico ou emocional -, abastecendo-os de confiança até que consigam voltar a “levantar” e manter-se de pé.

Os filhos dos pais helicópteros

Já percebemos que os filhos dos pais helicóptero confiam – e muito – nos critérios dos pais, consultando-os sobre qualquer decisão que necessitem de tomar. Isso é particularmente notório durante a adolescência, quando esses jovens não apresentam a famosa rebeldia contra a opinião, em geral, os pais – ao contrário do que se poderia esperar.

Genericamente, o desenvolvimento das capacidades emocionais dos filhos vai depender muito do carinho, da atenção e dos cuidados que recebem dos pais – sobretudo, durante os primeiros anos de vida. Mas, como já vimos, a proteção em excesso pode, na verdade, prejudicar os filhos, ao contrário de beneficiá-los. Um exemplo disso é que, para os especialistas em educação, o futuro pode apontar para filhos “inempregáveis”.

Como o problema desta conduta não está limitado às primeiras idades dos filhos e estende-se até à juventude, os problemas tomam proporções ainda maiores com o passar dos anos, quando estes pais, habituados a “sobrevoar”, continuam a querer superproteger os voos dos filhos adultos. Alguns jovens relatam que os pais chegam a acompanhá-los nas primeiras experiências de entrevistas de emprego, outros relatam que apresentam dificuldade de adaptação aos primeiros trabalhos, e outros queixam-se do incómodo que é, já na vida adulta, ter de lidar com o excesso de opinião dos pais sobre o que dizem ou como agem.

Jovens filhos de pais helicópteros e especialistas no assunto concordam: este tipo de atitude só impede que, desde cedo, os filhos aprendam a tomar decisões, fazer escolhas, assumir responsabilidades, resolver problemas e, por fim, ser independentes ao longo da vida – criando uma situação de dependência prolongada que interfere na carreira profissional e nas relações pessoais, como o casamento.

Ainda segundo especialistas em parentalidade, situações de superproteção ajudam a criar nos filhos imaturos, inseguros, nervosos, tímidos, intolerantes ao fracasso, com pouca capacidade de adaptação e dificuldade de resolver problemas, tornando-se incapazes de assumir responsabilidades e, até, de relacionarem-se com os outros.

O que fazer para afastar comportamentos de superproteção desde a infância

O segredo, para os pais que querem evitar problemas de superproteção, é ter autoridade, ser assertivo e disciplinado, e, claro, agir com amor. Conheça algumas estratégias para não ser um pai helicóptero:

  • dê responsabilidades aos seus filhos, para que, desta forma, passem a adquirir autonomia;
  • adapte o grau de exigência a cada faixa etária (exemplo: altere as pequenas responsabilidades à medida que os filhos crescem);
  • com segurança e amor, permita que os seus filhos sejam “eles mesmos”;
  • ofereça as ferramentas necessárias para a superação de obstáculos, mas não faça as coisas no lugar dos filhos;
  • transmita autoestima, segurança e entusiasmo (lembre-se: os filhos, na verdade, são reflexos dos pais);
  • incentive os seus filhos a socializar e explique claramente que relacionar-se com os outros fortalece a segurança pessoal;
  • deixe que os mais novos, com supervisão, explorem os ambientes (os pais podem e devem acompanhar os filhos pequenos neste processo de exploração, para que se sintam seguros e crie laços mais fortes);
  • lembre-se que, se conseguir deixar que os filhos tomem determinados tipos de decisão, vai ajudá-los a formar os seus próprios critérios.

Recorde-se que vai sempre a tempo de informar-se e de alterar determinados comportamentos que vê hoje como naturais no processo de educação dos seus filhos.

Se acha que tem algum comportamento de superproteção, lembre-se (sem culpas desnecessárias) que a intenção dos pais helicóptero não passa de uma genuína tentativa de serem bons guias para os filhos – a estratégia é que falha, causando confusão para os mais novos, que vão crescer sem saber como assumir consequências, por exemplo.

Com algum treino e esforço, é possível alterar comportamentos de proteção excessiva, dando a oportunidade aos mais novos de desenvolverem competências essenciais desde cedo. Isso vai revelar miúdos que sabem gerir e controlar impulsos emocionais, fazer as próprias escolhas e encarar “pequenos fracassos” como frustrações simples de superar. E quem de nós não quer ter filhos dignos de grandes desenrasques?

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