Ekonomista
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18 Dez, 2023 - 13:00

Países da CPLP têm um potencial gigante em termos de recursos

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Entrevista com Nelma Fernandes, presidente da Confederação Empresarial da CPLP.

Nelma Fernandes

Nelma Fernandes é a presidente da da Confederação Empresarial da CPLP, a organização que agrega os diferentes países do universo lusófono.

Em entrevista ao Ekonomista, não só traçou as linhas gerais de atuação da confederação que lidera, como também apontou os caminhos futuros que é obrigatório seguir para alargar os horizontes e mercados das empresas que se movem neste espaço económico.

EKONOMISTA: A CPLP nasceu de uma língua comum. Mas a verdade é que os desafios económicos, e as realidades culturais, de cada um dos países são muito diferentes. Qual o papel da CE-CPLP na ligação entre os diferentes atores da comunidade?

NELMA FERNANDES: A riqueza da comunidade, reside exatamente na diversidade. Na verdade não existe nenhum país, mesmo ao nível global, que seja igual a outro.

O papel fundamental da CE-CPLP é de proporcionar oportunidades para que as empresas, o setor privado, desenvolvam a sua atividade. Por consequência natural, desenvolver o crescimento económico.

A CE-CPLP faz isso de várias formas. Com as Cimeiras de Negócios, que acontecem nos nove países da CPLP. Neste contexto as empresas podem, num ambiente seguro e privilegiado, ter real oportunidade de abrir novos mercados, de trocar experiências com empresários do mesmo e ou de outros setores de atividade. Pode ainda ter contato direto com os decisores governamentais de várias pastas.

Outro cenário é possibilitar um contato direto com qualquer outra grande, pequena, média empresa dentro e ou fora da comunidade. A CE-CPLP tem da sua direção as maiores Câmaras de Comércio dos países de língua portuguesa, o que a torna na maior rede empresarial dos estados membros.

Um outro aspeto extremamente importante é nas relações privilegiadas, institucionais e governamentais de suporte óbvio do crescimento económico sustentado, benéfico no seu todo.

Para finalizar, o apoio que prestamos aos nossos associados na execução de projetos válidos e na busca de financiamento para a sua execução.

A nível institucional, qualquer estado membro pode ter na CE-CPLP um parceiro para a captação de investimento.

EK: As empresas dos diferentes países que compõem a CPLP estão conscientes das potencialidades do mundo lusófono enquanto espaço de desenvolvimento económico? Ou considera ainda existir um trabalho de consciencialização a fazer junto dos agentes económicos?

NF: Começa a ter expressão o número de empresas que estão cientes dessa grande potencialidade, ainda assim o trabalho de consciencialização é necessária.

Falamos de um espaço económico onde temos recursos naturais, recursos minerais, temos alimentos de terra e mar, temos reserva de água, petróleo e gás, etc.

Temos tudo o que o mundo necessita numa grande escala e ainda temos um facilitador e denominador comum que é a língua.

EK: Quais são as áreas prioritárias que a CE-CPLP aposta em termos de desenvolvimento económico?

NF: Coincidem na verdade com a demanda global, o agronegócio, energética, meio ambiente, economia verde e azul.

A capacitação é também um tema fundamental para a comunidade.

EK: Há desigualdades marcantes entre os diferentes países da CPLP. Não há o risco de uma certa “ditadura” dos mais fortes, designadamente Portugal e o Brasil?

NF: A desigualdade no meu ponto de vista é essencialmente na tecnologia. Os restantes países da CPLP, tem um gigante potencial em termos de recursos. Não há qualquer sombra de dúvida que o futuro está no berço da humanidade que é África. Atualmente todos sabemos essa realidade.

Isto significa que esse risco não existe, pelo fato de precisarmos todos um dos outros. Brasil e Portugal estão efetivamente num outro patamar económico e a sua experiência e conhecimento tecnológico pode alavancar os restantes países nos seus vários recursos. Dessa forma o ganho é comum e sem qualquer risco de ditadura.

nelma fernandes
“O futuro está no berço da Humanidade, África”, diz Nelma Fernandes

EK: Que relação deve a CPLP ter com os chamados BRIC, um grupo de países que vai ganhando cada vez mais afirmação?

NF: A mesma relação que deve ter com os demais blocos económicos relevantes. A comunidade CPLP goza desse privilégio, de estar presente em todos os grandes blocos económicos. Quando mais fortalecermos a nossa comunidade, mais relevância ganhamos com os pares. As nossas potencialidades são efetivamente gigantes.

EK: Que grandes projetos de cooperação entre os países da CPLP estão no terreno com a mediação da CE-CPLP?

NF: Estamos a desenvolver a tão desejada base de dados, que vai permitir um maior conhecimento das relações empresariais existentes e uma maior comunicação e ligação do setor privado.

A criação de uma zona industrial na Guiné Equatorial é outro grande objetivo.

Estamos igualmente a trabalhar num instrumento financeiro que vai permitir apoiar as empresas e projetos dentro da comunidade.

EK: A inclusão e a igualdade de género são temas que entraram em definitivo na agenda mediática. Como mulher, e sendo a primeira mulher a ocupar este cargo, como vê a realidade da CPLP nesta área?

NF: Este é um tema mundial. Tem de ser levado e trabalhado de forma séria.

A equidade e igualdade, entre homens e mulheres, quer seja dentro das instituições ou empresas, são de extrema importância para o equilíbrio mundial. O que significa que é responsabilidade comum de todos nós, mulheres e homens, unirmos esforços para acelerar essa inclusão.

O mundo mudou e as mulheres atuais, de uma forma ou de outra, vão garantidamente ocupar o seu lugar na sociedade. Uma realidade sem retorno.

Pessoalmente sou a favor da capacidade e competência. Quem a tem independente da questão de género deve estar na linha da frente.

EK: Qual o legado, ou marca, que gostaria de deixar na CE-CPLP?

NF: Sou de entrega de resultados em todos os projetos que abraço. Na CE-CPLP vai ser exatamente igual. Nem é o que gostaria de deixar, é mesmo o que esta direção vai deixar.

A primeira prioridade é garantir que os nossos associados, tenham na CE um suporte efetivo para apoiar no seu desenvolvimento económico, ao nível nacional e internacional.

A base de dados que é um instrumento fundamental para a comunidade. Conseguir medir o estágio atual e as potencialidades a explorar. Entregar um instrumento financeiro que esteja presente em todos os países da CPLP.

Por fim, a zona industrial da Guiné Equatorial um compromisso assumido na primeira Cimeira de Negócios da CE-CPLP.

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