Viviane Soares
Viviane Soares
15 Jun, 2022 - 10:28

20 anos do Euro: quanto custava um café antes da moeda única?

Viviane Soares

Ainda se lembra de abrir a carteira e ver escudos? Já lá vão mais de 20 anos desde que Portugal aderiu à moeda única, sendo que muito mudou na vida dos cidadãos.

20 anos do Euro

A moeda única, o euro, foi lançada no dia 1 de janeiro de 1999, apesar de, oficialmente, só ter começado a circular em 2002, altura em que passou a ser a divisa de 300 milhões de cidadãos europeus.

Em Portugal, e apesar de terem sido tomadas medidas para que não houvesse especulação de preços (como a apresentação dos preços em escudos e em euros), as pequenas despesas chegaram a duplicar de um dia para o outro.

Por exemplo, o café expresso, que imediatamente antes da entrada em vigor do euro, custava 50 escudos, passou a custar 50 cêntimos (100 escudos), valor que foi aplicado para facilitar os pagamentos na nova unidade monetária (ou pelo menos foi essa a explicação dada pelos restaurantes, cafés e pastelarias para explicar o fenómeno de variação de preços). Foram os chamados “preços convenientes”, cujo último algarismo termina em zero.

Certo é que a troca de escudos por euros veio aumentar o custo de vida dos portugueses, até porque Portugal entrou na moeda única europeia com o escudo muito caro (200,482 escudos = 1 euro), o que, em grande medida, retirou poder de compra aos cidadãos.

O que duplicou de preço com a moeda única

Atualmente, o euro é a moeda oficial de 19 países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Holanda e Portugal), sendo que é a divisa de mais de 340 milhões de europeus.

Porém, nem todos os países estão no euro desde o início. Portugal faz parte do grupo de 11 fundadores que começaram a usar a moeda única desde que começou a circular, juntamente com Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo.

Passadas duas décadas a circular nas carteiras portugueses, em substituição do escudo, e após um período de adaptação moroso (quem não se lembra dos caricatos conversores do escudo para o euro, que toda a gente levava quando ia às compras), foi-se perdendo o valor real do dinheiro.

Isto é, sem darmos por isso, começámos a tirar da carteira muito mais dinheiro para comprar os mesmos produtos. Comprávamos sem termos bem a noção de quanto é que estávamos a pagar, sobretudo nos primeiros três anos da moeda única.

Quando antes dávamos 20 ou 30 escudos ao arrumador, passámos a dar 50 cêntimos (100 escudos) ou mais. Hoje, darmos dois euros (400 escudos) de gorjeta num restaurante passou a ser normal. Ainda se recorda do que poderia fazer com 1000 escudos (hoje, apenas 5 euros)? Fizemos algumas contas.

1. O litro de gasolina

Em janeiro de 2002, antes da moeda única, o litro de gasolina custava, em média, 172 escudos (86 cêntimos). Em janeiro de 2021, o preço médio era de 1,482 euros (quase 300 escudos). Com 1000 escudos podia abastecer o seu automóvel com 6 litros de gasolina. No início deste ano, apenas com três.

2. O bilhete de cinema

No mesmo período de tempo, uma ida ao cinema deixou de custar 700 escudos (3,49 euros) para passar a custar 7 euros (1400 escudos). Ou seja, no início deste ano, 1000 escudos não chegavam para comprar um bilhete de cinema.

3. Transportes públicos

Um bilhete de metro em janeiro de 2002 custava 100 escudos (50 cêntimos). Atualmente, para um bilhete de 1 hora, em Lisboa, pagará 1,40 euros (280 escudos).

4. Refeição completa em restaurante

Já o preço de uma refeição completa custava, em média, 1800 escudos (8,98 euros). Hoje, terá que desembolsar cerca de 15 euros (3000 escudos) para fazer a mesma refeição.

5. O maço de tabaco

A título de exemplo, um maço de Marlboro, custava 370 escudos (1,85 euros). Pelo mesmo maço, hoje pagará 5 euros ( escudos) – a tal nota de 1000 escudos.

Estes são apenas alguns exemplos de pequenas despesas cujo valor foi bastante inflacionado com a entrada no euro. No supermercado, produtos alimentares como os ovos, fruta ou leite também aumentaram, apesar de, por exemplo, o preço da carne, em comparação, ter mantido quase o mesmo preço.

Poderíamos ainda falar de portagens, preços de espetáculos culturais, jogos de azar, entre outros. No fundo, resumem-se a bens e serviços que, no dia-a-dia pagamos em numerário.

O custo de vida aumentou mais do que os salários

De acordo com uma comparação de dados apresentados pela PORDATA, o salário mínimo nacional em janeiro de 2002 era de 69.770 escudos (348 euros). Em janeiro de 2021, de 665 euros. Porém, o rendimento médio disponível das famílias subiu pouco mais de 7%, um valor manifestamente baixo para o custo de vida atualmente.

Claro que a adesão à moeda única também trouxe aspetos positivos, ainda que, muitos deles, não influenciem diretamente (ou de forma imediata) o dia-a-dia dos portugueses.

Do ponto de vista economicista, a moeda única transformou a forma de se comprar quando se viaja na União Europeia, uma vez que deixou de ser necessário trocar dinheiro pela moeda local. Além disso, o euro continua a ser uma moeda forte, mais valiosa do que o dólar norte-americano e a segunda moeda mais utilizada em transações internacionais.

Mas mais importante do que isso, acabou por controlar a inflação. Se alguns meses após a entrada em circulação do euro, a taxa de inflação em Portugal acelerou para valores acima de 5%, a moeda única veio introduzir alguma estabilidade na evolução dos preços no país.

Assim sendo – e voltando ao exemplo dado inicialmente -, se em vez de “o copo meio vazio”, olharmos para a situação através da perspetiva do “copo meio cheio”, o café expresso que, custava 50 cêntimos em 2002, custa agora, passados 20 anos, 65 cêntimos (média do país). Um aumento de apenas 15 cêntimos.

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