Olga Teixeira
Olga Teixeira
15 Dez, 2022 - 16:06

Taxas de juro voltam a subir: prepare-se para pagar mais pela sua casa

Olga Teixeira

Saiba como minimizar o impacto da subida de custos no seu orçamento, sobretudo agora que o BCE voltou a anunciar uma nova subida dos juros.

Subida de custos

A subida de custos está a pesar no orçamento de muitas famílias. O aumento das despesas é inevitável e, por isso, esta é a altura certa para fazer alguns ajustes no seu orçamento. Quanto mais cedo começar, menor será o impacto.

Basta ir ao supermercado, abastecer o carro e pagar a mensalidade da casa para perceber que está a gastar mais dinheiro. Infelizmente, esta tendência não deve inverter-se nos próximos tempos.

Assim, como os seus rendimentos não devem crescer na mesma proporção das despesas, está na altura de pegar na calculadora e começar a fazer algumas contas.

Veja como pode manter o orçamento familiar equilibrado apesar da subida de custos.

Subida de custos: o que está a aumentar e porquê

O ano de 2020 trouxe uma pandemia e dificuldades financeiras para empresas e famílias. Em 2021, a inflação regressou e, em 2022, os horrores da guerra criam um cenário igualmente preocupante.

No Boletim Económico de junho de 2022, o Banco de Portugal (BdP) explicava como esta conjugação de fatores está a ter impacto na economia nacional e mundial: “O agravamento do enquadramento internacional condiciona a evolução da atividade. A economia portuguesa sofre impactos, diretos e indiretos, da invasão da Ucrânia, que resulta no aumento da incerteza, em maiores taxas de inflação e no acentuar das disrupções nas cadeias de produção globais.” 

As previsões do BdP apontam para uma inflação de 5,9% para este ano mas, à data, a inflação na zona Euro já atingiu os 10% (em novembro). De forma simplista, isto significa que se ganha um ordenado de 1000 euros líquidos, vão entrar menos 100 euros na sua carteira.

Para tentar travar o aumento da inflação, o BCE tem vindo a anunciar sucessivos aumentos nas suas três taxas de juro diretoras, acabando de vez com os juros negativos na Zona Euro.

Agora, a terminar o ano, o regulador europeu agrava as taxas em mais 0,5 pontos percentuais para contrariar a escalada da inflação. E deixa um alerta: mais aumentos se avizinham.

Ora, como as taxas de juro têm impacto na Euribor, quem tem prestação de crédito com taxa variável- a maioria das famílias portuguesas – vai ter de desembolsar mais dinheiro mensalmente. Recorde-se que a Euribor a 12 meses atingiu, em novembro, os 2,828% e, a 6 meses, os 2,231%.

4 formas de mitigar a subida de custos

Apesar de ser inevitável, a subida de custos pode ter um impacto menor na sua carteira se souber como lidar com estes aumentos.

A menos que os seus rendimentos aumentem na mesma proporção, está na altura de olhar para a sua vida financeira e fazer algumas mudanças.

1

Negociar com o banco já

Este é o momento para se sentar com o seu gestor de conta e analisar diferentes cenários para controlar o impacto do aumento das taxas de juro na sua mensalidade. Aumentar o prazo de pagamento do crédito, negociar o spread, seguro de vida, amortizar crédito são questões que devem estar em cima da mesa para discussão.

Quanto às taxas de juro, se já tiver contraído um empréstimo, pode tentar fixar a taxa, mas não deixe de analisar se esta é de facto uma boa solução para o seu caso. Pense a longo prazo e não se esqueça que o seu banco permitir-lhe-á mudar para taxa fixa, mas nunca vai deixá-lo voltar a ter taxa variável.

Se o seu gestor de conta se mostrar relutante na negociação, pondere transferir o seu crédito de habitação para outro banco. Na maioria dos casos, mudar a dívida de uma instituição para outra traduz-se em condições mais vantajosas.

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2

Analisar despesas e perceber como cortar

Cortar nas despesas pode parecer um lugar comum. No entanto, é a forma mais fácil e imediata de ter mais dinheiro disponível ao longo do mês, mesmo com a subida dos custos.

Analise bem os seus gastos, sem esquecer as despesas fantasma e comece por cortar o que está a a mais. Ou seja, aqueles gastos totalmente dispensáveis, incluindo pagar por serviços que não usa.

Depois, avalie as despesas essenciais e perceba como pode reduzi-las. Renegociar seguros, mudar para o mercado regulado do gás ou comparar tarifas de fornecedores de eletricidade ou telecomunicações são algumas formas de baixar os gastos mensais.

E, claro, há pequenos hábitos diários que podem representar uma grande poupança nas contas mensais.

3

Aproveitar benefícios e alternativas low cost

Em tempos de subida de custos qualquer ajuda é bem-vinda. Por isso, é importante conhecer os apoios disponíveis para reduzir despesas.

Além das medidas de apoio já anunciadas pelo Governo, a tarifa social de energia, a tarifa social da água ou a tarifa social da internet, por exemplo, são medidas que as famílias com recursos mais baixos devem aproveitar para fazer face à subida de custos.

Mesmo que os seus rendimentos não permitam aceder às tarifas sociais, existem soluções low cost para quase tudo: das marcas brancas a contas bancárias de serviços mínimos ou sem comissões, passando por vários produtos e serviços, são muitas as opções para gastar menos.

4

Criar um fundo de emergência

Se ainda não tem um fundo de emergência, aproveite as poupanças que fez em despesas e serviços para criar um.

O fundo de emergência é, como o nome indica, uma poupança que permita fazer face a alguns meses de despesas. Quantos? Comece por pensar em poupar o equivalente aos seus gastos num mês e a partir daí pode pensar em criar um fundo de emergência para 3, 6 ou 12 meses.

As duas regras básicas do fundo de emergência

Há duas regras fundamentais no que respeita ao fundo de emergência. A primeira é que este dinheiro é mesmo para emergências. Por isso, deve resistir à tentação de recorrer a essa poupança para outras despesas.

O mais provável é que não reponha o que tirou e esse pé-de-meia acaba por desaparecer. Esta é uma das razões para não guardar esse fundo em casa, porque estará facilmente acessível.

Outra regra é que o fundo de emergência deve estar disponível caso surja alguma despesa urgente. Assim, e embora possa ser mais rentável aplicar esse dinheiro num PPR, em Certificados de Aforro ou num depósito a prazo, é preferível tê-lo numa conta poupança, para que possa ter acesso ao montante que precisar de forma quase imediata.

Investir ou poupar?

Embora fazer investimentos seja uma boa forma de fazer render o seu dinheiro, criar um fundo de emergência deve ser o primeiro passo. Pode poupar um pouco todos os meses e reforçar essa poupança com uma parte do reembolso do IRS ou mesmo do subsídio de Natal e/ou subsídio de férias.

Assim, se a subida de custos reduzir o seu orçamento mensal, terá sempre uma poupança para usar em caso de doença, desemprego ou outro imprevisto.

Artigo originalmente publicado em março de 2022. Atualizado em dezembro de 2022.

Fontes

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